22/06/2025
[Imagem: Praia do Tombo – Guarujá/SP]
A sociedade atual está marcada pelas disputas e concorrências, cada dia mais intensas, entre os seres humanos. Todos desejam alcançar sucesso financeiro, profissional, conquistar sonhos e desejos de um modo geral. Contudo, a sociedade em que vivemos possui normas, regras, todos possuem direitos e deveres que orientam as atitudes e comportamentos, a fim de manter as relações o mais harmônicas possível. Devemos sempre nos lembrar que nossas ações podem impactar de maneira positiva ou negativa na vida das pessoas, portanto devemos sempre pensar que, para alcançarmos o que desejamos, não podemos agir de maneira a prejudicar o outro. Precisamos agir dentro dos princípios socialmente aceitos para mantermos um nível saudável de convivência.
Podemos observar diariamente que nem sempre os direitos do outro são respeitados e que os comportamentos são baseados no egoísmo e no desejo de se ter as coisas, doa a quem doer. Alguns indivíduos não se importam com as consequências que seus atos podem causar na vida e na convivência com o seu próximo. Com o aumento da competitividade desenfreada, a ética, que era uma reflexão da moral, passou a regulamentar o comportamento das pessoas, visando à preservação da moral e dos bons costumes.
Moral é um conjunto de normas, regras, valores e princípios socialmente aceitos que estabelecem as relações tornando-as mais harmônicas e saudáveis. A moral não é inata, ou seja, não nasce com o ser humano, ela é aprendida e desenvolvida de acordo com a vivência e as experiências de cada indivíduo ao longo da vida. Pode ser ensinada às crianças para que seus comportamentos sejam modelados de acordo com o que a sociedade em que ela está inserida entende como correto e adequado.
Imagine um indivíduo que acaba de nascer. Ele não traz em si, de forma inata, o conhecimento sobre o que é certo ou errado. Ele vai aprender isso com base no ambiente em que estiver inserido. Se cresce em uma sociedade desordenada, onde não há respeito pelo próximo, nem cuidado com o meio ambiente, é provável que repita o mesmo padrão. A moral, nesse sentido, é construída. Ela nasce do contato com o mundo, com os outros, com a convivência. Por isso, nem todos têm as mesmas oportunidades de internalizar valores éticos. Uma criança que cresce em meio à violência, aos maus-tratos ou à indiferença dificilmente vai desenvolver um senso de responsabilidade social se isso nunca lhe for apresentado como valor. A sociedade, então, não é apenas cenário: ela é agente da formação moral. E cada um de nós tem parte nessa responsabilidade.
É importante que a moral faça parte da educação das crianças. Elas devem ser devidamente orientadas desde cedo, para que possam compreender a importância da moral e da ética em nossa sociedade, para que se desenvolvam e se tornem adultos equilibrados, centrados, dignos, corretos e comprometidos não apenas com o bem-estar próprio, mas também com o bem-estar dos demais, fazendo a sua parte para a construção de uma sociedade melhor.
É importante que o ser humano seja ensinado desde a infância a reconhecer os valores morais e éticos que regem a sociedade em que está inserido, para que assim ele possa tomar decisões mais conscientes e responsáveis. Que possa refletir sobre como seus atos podem influenciar a sociedade, transformando-o então em um indivíduo com responsabilidade social. Ou seja, alguém que age de forma ética e correta, a fim de minimizar os impactos negativos que suas ações podem causar ao coletivo e ao meio ambiente.
🌱 Responsabilidade social como cuidado concreto
Responsabilidade social também se expressa no cuidado — especialmente em um país onde tantas pessoas enfrentam sofrimento psíquico, sobrecarga de trabalho, violência emocional e abandono institucional. Em meio a essa realidade, muitos profissionais oferecem um pouco do seu tempo, da sua escuta e da sua formação como forma de contribuir com quem mais precisa. Isso não é caridade: é responsabilidade ética.
Como psicóloga, sei que esse cuidado pode assumir diversas formas. Já atuo diretamente em contextos onde o sofrimento humano exige presença, firmeza e acolhimento — e entendo que isso também é exercer responsabilidade social. Não necessariamente por meio de projetos externos, mas dentro do espaço onde estou inserida, com os recursos e os limites que esse contexto impõe.
Quando falamos de responsabilidade social nesse sentido, não se trata apenas de cumprir com o dever profissional remunerado, mas de buscar formas voluntárias de colocar em prática o cuidado. Um médico pode oferecer uma hora do seu dia para atender alguém em situação de vulnerabilidade. Um psicólogo pode organizar grupos de apoio. Cada profissional pode, dentro de sua realidade, usar suas ferramentas para contribuir com quem mais precisa. Nem todos terão tempo ou condições, e isso é compreensível — mas aquele que pode, por que não fazê-lo?
Acredito que, se cada profissional usar as ferramentas que tem, no lugar em que está, para aliviar a dor do outro — mesmo que de forma discreta e silenciosa — já estará cumprindo um papel transformador. Ética, aqui, é compromisso com a vida real. E esse compromisso começa no cotidiano, no campo onde se vive, e não no ideal distante. Muitos já fazem sua parte. Mas se mais pessoas fizessem o mesmo, se cada um contribuísse com o que pode, formaríamos uma corrente capaz de transformar profundamente a sociedade.
O termo responsabilidade social ganha força nos anos 80 entre as grandes empresas, pois essa prática agrega valor à imagem das companhias que a adotam. A prática da responsabilidade social, no entanto, não deve se resumir a uma jogada de marketing. Trata-se de demonstrar comprometimento com o bem-estar da sociedade e com o meio ambiente. Essa preocupação deve se estender também aos seus colaboradores, para que se mantenham motivados, sejam recompensados de maneira digna pela colaboração, cuidando para que trabalhem com dignidade, respeito, contribuindo para a manutenção do bem-estar no ambiente de trabalho e minimizando os impactos nocivos à saúde física e mental.
Uma empresa que adota essa postura ética se compromete não apenas com os lucros que suas atividades produzem, mas com tudo o que a cerca. Demonstra maturidade e responsabilidade em sua gestão, tornando-se exemplo para outras organizações. Ela cresce e se desenvolve de maneira ética, e, com isso, conquista maior credibilidade no mercado.
Mas é importante lembrar: a responsabilidade social verdadeira não se mede apenas pelos projetos externos. Muitas empresas divulgam ações para a comunidade, promovem campanhas de sustentabilidade e inclusão, mas internamente desrespeitam seus próprios funcionários. Assédios, sobrecarga, metas abusivas e condições indignas de trabalho ainda são práticas comuns em diversas organizações. Uma empresa ética cuida de dentro para fora. Antes de oferecer cursos a crianças carentes, é preciso oferecer condições dignas de crescimento para os próprios colaboradores. Treinar, valorizar e promover seus funcionários também é uma forma de responsabilidade social.
A responsabilidade social não é um papel exclusivo de grandes empresas. As pequenas também podem desenvolver projetos e adotar medidas que contribuam significativamente com a sociedade. Um exemplo são os resíduos que essas empresas produzem. Elas podem criar formas de reaproveitamento desses materiais em reciclagem e artesanato. Já para os casos em que os resíduos não podem ser reutilizados e reaproveitados, é conveniente buscar a maneira correta de se descartar esse material, a fim de minimizar os impactos nocivos ao meio ambiente.
Cada cidadão pode adotar medidas que contribuam com a sociedade de maneira individual e em suas casas. Um exemplo de responsabilidade social individual é economizar água, contribuir com a limpeza da sua região, não jogando lixo nas ruas, nas praias, nos parques, recolhendo as fezes do seu animal de estimação e cuidando do meio ambiente como se fosse sua própria casa.
A responsabilidade social não se revela apenas nas campanhas, nos relatórios ou nas atitudes públicas. Ela se mostra, sobretudo, no cotidiano silencioso, onde não há plateia, nem curtidas, nem reconhecimento imediato. A verdadeira ética é aquela que resiste à tentação da aparência — e permanece íntegra mesmo quando ninguém está olhando.
É fácil parecer ético em público. Difícil é manter esse compromisso dentro de casa, no ambiente de trabalho, no convívio com os animais, com os vizinhos, com a própria família. Difícil é abrir mão do conforto de varrer para debaixo do tapete as incoerências do que se fala e o que se faz. A moral vivida exige coragem. A responsabilidade social começa no íntimo — e se expande para o mundo por coerência, e não por vaidade.
Quando instituições, empresas ou indivíduos vestem a máscara da moral apenas para mostrar virtude, mas mantêm estruturas de negligência, maus-tratos ou exploração em seus bastidores, o que vemos é um teatro. E, como todo teatro, uma hora a cortina cai. Por isso, mais do que parecer, é preciso ser.
Agir com ética, mesmo quando ninguém está vendo, é uma escolha. E talvez seja a mais urgente e revolucionária que podemos fazer neste tempo em que a aparência grita e o cuidado silencia. Que cada um de nós, em seu lugar no mundo, escolha com consciência — e faça da ética uma prática viva, não uma encenação social.
Por Érika Marques
Psicóloga - CRP 06/162144
Pós Graduada em Psicologia Social e do Trabalho